Dez Pontos do Pensamento de Henrique Meirelles para a Economia Nacional & Impactos Sobre Mato Grosso do Sul



Nº 1 - RESERVAS INTERNACIONAIS

         Dentre as medidas emergenciais a serem adotadas por Henrique Meirelles, cotado para assumir a pasta da Fazenda no provável Governo de Michel Temer, está o grau de importância dado às reservas internacionais. 
        Para Meirelles o país deve manter o nível acima de US$ 350 bilhões (colchão de liquidez, assim chamado por Meirelles). Forte instrumento utilizado no controle cambial, bem como sinal aos credores quanto a capacidade do país em honrar seus compromissos. 
       No gráfico abaixo podemos ver o comportamento da reserva brasileira nos últimos 15 anos.


Gráfico – Reservas Internacionais Brasil – Conceito Liquidez
Fonte: BACEN. Elaboração Observatório Econômico SINDIFISCAL - MS


Nº 2 - BANCO CENTRAL – INDEPENDÊNCIA FORMAL

Para compreender o tema, é importante considerar as principais funções do Banco Central. Para tal, utilizamos a interpretação de Vasconcelos (2008):

  1. Banco dos Bancos – tem como função zelar pelo sistema financeiro nacional, sendo regulador e fiscalizador dos agentes que o compõe, e em casos necessários funciona como emprestador;
  2. Depositário de Reservas Internacionais do País – Possui um estoque de moedas estrangeiras (reservas) que possibilita a intervenção no mercado de cambial;
  3.  Banqueiro do Governo (Tesouro Nacional) – Realiza depósitos e empréstimos ao Tesouro, além da responsabilidade sobre títulos públicos;
  4.  Emissor de Papel – Moeda.

Diante de tais funções, o debate sobre sua independência têm-se tornado constante alvo de opiniões dos economistas e chefes de governo. Vale lembrar que atualmente é o Poder Executivo que indica a diretoria do “Bacen” além de indicar metas e o funcionamento destas.

Uma grande discussão tem sido notada sobre o grau de independência que se pretende dar ao Banco Central do Brasil, sendo ele totalmente independente ou autônomo. Essa diferença se baseia no fato que um Banco Central independente determinaria por si mesmo os objetivos da política e a forma de alcançá-los. Por sua vez, um Banco Central autônomo determinaria apenas os meios para conseguir os objetivos proposto pelo Executivo. (Crocco; Jayme Jr., 2003).

Assim, alguns defendem a independência, argumentando em linhas gerais conforme informado na revista Carta Capital, que o Banco Central estaria “blindado” das pressões políticas e com isso poderia focar nas suas políticas e ganhar maior credibilidade externa. Enquanto, os críticos desse sistema independente afirmam que tais políticas executadas pelo Banco Central afetam diretamente a população, e desta feita, não poderiam ficar “fora do controle” do Poder Público.

Em seu artigo, Sicsú* afirma que “Os proponentes da tese da IBC têm argumentado que um BC independente deve assumir a tarefa estatutária única de guardião da estabilidade do poder de compra da moeda.”

Sicsú*, por outro lado, em sua tese crítica tal independência, relatando que um Banco Central Independente não eliminaria a possibilidade de adotar políticas ineficientes (apenas elimina a sua subordinação do Governo Central). Dessa forma, a possibilidade de independência abriria caminho a uma descoordenação entre as políticas fiscal e monetária e consequentemente a ineficiência citada acima, conforme casos ocorridos na Alemanha e Estados Unidos no início dos anos de 1980.

O diretor do Banco Central (Anthero Meirelles) afirmou em 2014 que as decisões tomadas pelo Bacen são livres de influência política. Exercendo assim, uma autonomia operacional. Vale ressaltar que o Brasil é o único país onde se utiliza um regime de metas de inflação, e não tem mandato fixo para a diretoria do BACEN.

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (FED) tem como presidente um nome indicado pelo chefe do Executivo, e este possui mandato de quatro anos. Outros casos onde é exercida a autonomia garantida por lei são os bancos centrais do Chile, México, Inglaterra, Japão e Austrália.

Nº 3 - AUMENTAR IMPOSTOS SE NECESSÁRIO TEMPORARIAMENTE

            Para Henrique Meirelles o aumento de impostos se faz necessário de modo temporário para equilibrar o orçamento governamental. E quando ocorrer uma significativa melhora será possível até a redução dos mesmos.

            O aumento dos impostos deve vir acompanhado da simplificação do sistema tributário que poderá também exercer efeitos significativos sobre a arrecadação de receitas. Tema que o Governo deve atentar-se principalmente pelo destaque dado as pedaladas fiscais, que poderá determinar o impeachment da Presidente Dilma.

            A teoria econômica desenvolveu a curva de Laffer, onde, é demonstrado o total arrecadado por um determinado imposto de acordo com a taxa utilizada pelo mesmo. Como segue na imagem a seguir:

                                                  Imagem 01 – Curva de Laffer
            
              Na imagem acima é apresentado um valor de 0% a 100% (horizontal) que representa a taxa cobrada de um imposto específico. Logo uma taxa de 0% não haverá arrecadação e o mesmo ocorrerá caso for 100%, com isso, há uma porcentagem específica em que haverá o máximo possível de obtenção de receita (ponto mais alto da curva). Essa porcentagem é modificada com determinado tipo de região e característica do imposto.

            Portanto é possível observar que para ocorrer uma elevação dos impostos deve haver um respaldo da sociedade e dos empresários (que realizam investimentos), pois uma elevada carga tributária pode reduzir a arrecadação, ao contrário do pretendido. Tal medida tornar-se-ia mais eficaz com uma melhorara do ambiente econômico.


Gráfico – Dívida Bruta do Governo em relação ao PIB

Fonte: BACEN. Elaboração Observatório Econômico SINDIFISCAL - MS

Em 2015 o Ministério da Fazenda lançou uma nota técnica sobre a previsão do aumento da relação Dívida Bruta do Governo Geral sobre o PIB, informando que o patamar próximo dos 70% indica a necessidade de medidas de consolidação fiscal que seja possível reduzir essa relação a 60% ou menos.

Nº 4 - CARGA TRIBUTÁRIA: SIMPLIFICAR OS IMPOSTOS

            A forma de cobrança da carga tributária pode afetar o total arrecadado, tanto pela falta de conhecimento do contribuinte quanto pela sonegação, ou seja, além das taxas (muitas vezes elevadas) a complexidade do sistema contribui para ocorrer evasão fiscal.

            Giambiagi e Além (1999) definem que o conceito da simplicidade é associado com a facilidade da operacionalização da cobrança de determinado tributo. Dado que é importante ser de fácil entendimento ao pagador, mas também que a cobrança, arrecadação e o processo de fiscalização de um imposto não devem representar custos administrativos elevados para o governo.

        Para Meirelles reduzir a complexidade dos impostos é importante para criar um ambiente mais confortável, e assim aumentar a confiança dos investidores e consequentemente alcançar o crescimento e geração de emprego.

            Dentre as mudanças necessárias nos impostos, um olhar especial deve ser lançado sobre o ICMS (em 2015, representou 48,18% do total arrecado no Mato Grosso do Sul, segundo o Portal da Transparência).

             Desde 2013 propostas de mudanças na sua forma de arrecadação e definição de alíquotas vem sendo debatidas no Senado Federal, dentre elas podemos listar:


  1. Redução e uniformização das alíquotas interestaduais – Hoje com 12% nos estados “pobres” e 7% nos estados “ricos”, ambiente propício a “guerra fiscal” entre os estados;
  2. Fortalecimento da tributação no destino;
  3. Elaborar um fundo para amparar a reforma do ICMS. Entretanto visto com desconfiança por parte dos Estados pelo histórico de fundos não constitucionais que não tiveram sucesso (Ex.: Lei Kandir);
  4. Unificação das alíquotas interestaduais em 4% (gerando discussões regionais, como o caso da Zona Franca de Manaus e do Gás boliviano no MS);
  5. O comércio não presencial (internet e telefone), modificado pela PEC 07/2015 que originou a EMC 87, onde antes o imposto era recolhido inteiramente na localidade em que ocorria a venda. Com a modificação, gradualmente o imposto será creditado na conta do Estado destino da mercadoria ou serviço, e até 2019 o percentual arrecadado  será de 100%.

Portanto, um ponto importante a ser equacionado pelo líder econômico do país será atender os interesses da União (reduzir o déficit) aliado aos interesses dos Estados da Federação (principalmente em proteger o ICMS, fomentando as alterações necessárias sem gerar perdas). 
É importante ressaltar que os debates sobre as possíveis modificações no ICMS encontram-se paralisados no Senado Federal, face a atual agenda política.

Nº 5 - SALÁRIO MÍNIMO: DESINDEXAR OS REAJUSTES

          Outro ponto destacado por Henrique Meirelles trata sobre a desindexação dos reajustes do salário mínimo. Atualmente, segundo o Ministério do Trabalho e Previdência Social, o reajuste se efetua da seguinte maneira:

Essa política tem como critérios o repasse da inflação do período entre as correções e o aumento real pela variação do PIB. Estava também prevista a antecipação, a cada ano, da data-base de revisão, até ser fixada no mês de janeiro, o que aconteceu em 2010.”

            Ainda com informações do MTPS, o salário mínimo afeta cerca de 46,7 milhões de brasileiros, servindo também como referência nas negociações salariais, remuneração do setor informal, entre outros. Dessa forma, possui um enorme peso sobre a previdência social e relevante pressão inflacionária.

            Com a alta do salário mínimo, seria plausível esperar que este fosse acompanhado de uma elevação da produtividade dos setores da economia. Caso contrário, restaria apenas o incremento do custo da mão-de-obra, e consequentemente redução das margens de lucro, capacidade de reinvestimento e por fim aumento do desemprego involuntário.



Tabela – Evolução do Salário Mínimo (2000 – Hoje)
LEGISLAÇÃO
DOU
VIGÊNCIA
VALOR
Med.Prov. N 2.019  23/03/2000
24.03.00
03.04.2000
 R$     151,00
Med.Prov. N 2.142  29/03/2001
30.03.01
01.04.2001
 R$     180,00
Med.Prov. N 35  27/03/2002
28.03.02
01.04.2002
 R$     200,00
Med.Prov. N116 02/04/2003
03.04.03
01.04.03
 R$     240,00
Med.Prov. N182 29/04/2004
30.04.04
01.05.04
 R$     260,00
Med.Prov. N248 20/04/2005
22.04.05
01.05.05
 R$     300,00
Med.Prov. N288 30/03/2006
31.03.06
01.04.06
 R$     350,00
Med.Prov. N362 29/03/2007
30.03.07
01.04.07
 R$     380,00
Med.Prov. N421 29/02/2008
29.02.08
01.03.08
 R$     415,00
Lei nº 11.709 de 28.05.2009
30.01.09
01.02.09
 R$     465,00
Lei nº 12.255 de 15.06.2010
23/12/2009
01.01.10
 R$     510,00
Med.Prov. N516 30/12/2010
01.01.2011
01.01.11
 R$     540,00
Lei Nº 12.382 de 25.02.201
25.02.2011
01.03.11
 R$     545,00
Decreto Nº 7.655 de 23.12.2011
23.12.2011
01.01.12
 R$     622,00
Decreto Nº 7872 de 23.12.2012
26.12.2012
01.01.13
 R$     678,00
Decreto N°8.166 de 23 .12.2013
24.12.2013
01.01.14
 R$     724,00
Decreto Nº 8.381 de 29.12.2014
29.12.2014
01.01.15
 R$     788,00
Decreto Nº 8.618, DE 29.12.2015
30.12.2015
01.01.16
 R$     880,00
                 Fonte: MTPS. Elaboração Observatório Econômico SINDIFISCAL - MS

            Como será demonstrado na imagem a seguir, o aumento do salário tem sido maior que a produtividade alcançada no período observado. Como já explanado, impactando na alta do índice de preço aos consumidores. Portanto,  torna-se premente a  mudança da política de ajuste dos salários (medida a ser adotada pelo possível Ministro), ou que a atual seja acompanhada por uma maior qualificação dos trabalhadores, para que assim ocorra a desejável  elevação da produtividade.



Nº 6 – LEGISLAÇÃO TRABALHISTA: DAR AUTONOMIA AOS ACORDOS ENTRE SINDICATO E EMPRESAS

Questão fortemente ligada à flexibilização das leis trabalhistas, assim seria possível uma diminuição nos custos de produção, o que ajudaria na contratação de mais funcionários e consequentemente aquecer a economia.
A medida proposta pode ser uma das ações que tentam diminuir o desemprego, que conforme demonstra o gráfico a seguir, alcançou números significativos em 2016.

Gráfico: Taxa de desemprego (%) - regiões metropolitanas Brasil
Fonte: IBGE.
    
            A principal crítica desta proposta recai sobre o possível enfraquecimento dos direitos dos trabalhadores, porém uma proposta construída em conjunto com os sindicatos, como elemento preponderante no processo, facilitaria a implantação da iniciativa.

Nº 7 – CÂMBIO: ADOTAR A LIVRE FLUTUAÇÃO COM INTERVENÇÕES APENAS PONTUAIS

Tipos:
Câmbio fixo: taxa fixada pelo governo. Segundo Montella**:

A principal vantagem do regime de taxas de câmbio fixas é a segurança que ele proporciona aos agentes econômicos, facilitando as transações internacionais. Sua maior desvantagem é o ônus que recai sobre o Banco Central, por ter que assegurar a estabilidade proposta por esse sistema.

Câmbio livre (flutuante): as taxas são ajustadas automaticamente no mercado. Segundo Montella **:  
Sua maior vantagem é ajustar-se automaticamente, desonerando o Banco Central dessa incumbência. Em compensação, o câmbio flutuante tem como desvantagem estar condicionado à movimentação especulativa dos capitais externos, que por natureza são muito voláteis.

Atualmente, no Brasil o tipo de câmbio adotado é chamado de “dirty floating” onde o cambio flutua dentro de um intervalo com limites máximos e mínimos. Quando se aproxima de algum limite o Banco Central entra no mercado comprando ou vendendo divisas. Esse tipo de câmbio pode estar sujeito à adoção de limites sobre a influência do governo, o que lembra o câmbio fixo. Salutar em economias mais frágeis, quanto a capitais especulativos.

Nº 8 – PREVIDÊNCIA: PROMOVER UMA REFORMA COM ADOÇÃO DA IDADE MÍNIMA

           A questão da idade mínima não chega a ser um ponto fundamental em uma possível reforma do sistema previdenciário, pois esta medida tem como função adicionar a expectativa de vida ao cálculo, corrigindo futuras distorções. A Lei Nº 13.183, de 4 de Novembro de  2015, estabeleceu novas regras para o calculo da aposentadoria. Conforme a Previdência Social:

“A nova regra determina que, para as mulheres que querem se aposentar até o fim de 2018, é preciso somar o tempo de contribuição com a idade, até atingir um total de 85 pontos. No caso dos homens, a soma deve ser de 95 pontos. O tempo mínimo de contribuição previdenciária é de 30 anos para as mulheres e de 35 para os homens.” 

   Importante destacar que este novo modelo (regra 85/95) possui regra de progressividade. A partir de 2019, a regra passa a valer com pontos progressivos, devido ao aumento da expectativa de vida. 
    A imagem a seguir sintetiza as novas regras:




Nº 9 – INFRAESTRUTURA: ACELERAR O PROGRAMA DE CONCESSÕES À INICIATIVA PRIVADA

No momento, a necessidade de investimentos em infraestrutura é vital para retomada do desenvolvimento do país. Ante o desequilíbrio fiscal e estagnação da economia, excluindo a contração de novos empréstimos para tal, a única alternativa para atender esta necessidade recai sobre a iniciativa privada, por meio de concessões ou privatizações.


Nº 10 – ABERTURA COMERCIAL: REDUZIR UNILATERALMENTE TARIFAS E FIRMAR MAIS TRATADOS

            É uma medida para incentivar a economia, mas deve ser analisada com cautela, pois uma abertura acelerada pode prejudicar ainda mais a indústria local, que vive um momento de total falta de competitividade frente o mercado externo. Tratados são importantes para reafirmar a posição do país em novos blocos econômicos e gerar oportunidades.

         
CONCLUSÕES

        Para a economia de Mato Grosso do Sul a situação econômica só não está pior  (pouco melhor entre os 28 desesperados) pelo fato do câmbio estar valorizado, o que acaba incentivando as exportações. Ainda assim, é notório a necessidade de um choque de confiança por parte do Governo Federal para a retomada dos investimentos.

        Os pontos analisados neste artigo expressam apenas os principais, identificados a partir dos últimos artigos e declarações de Henrique Meirelles. Alguns com maiores chances de serem aplicadas no curto prazo, outros com pouca probabilidade de pleno sucesso, devido a sua complexidade e tempo necessário para sua implantação, ainda assim extremamente necessários.

       Por último, analisamos nas tabelas abaixo a evolução dos principais indicadores econômicos de Mato Grosso dos Sul, onde nossa expectativa é a retomada do incremento anual observado até 2014: Varejo, Emprego, Exportações e Importação (onerada pelo ICMS) - de fácil compreensão sob a análise dos incrementos.








Fontes:

Finanças Públicas – Teoria e Prática  no Brasil. Giambiagi e Além
Banco Central do Brasil – BACEN
Manual de Macroeconomia. Lopes e Vasconcelos
Independência e Autonomia do Banco Central. Crocco e Jayme Jr.
Uma Crítica à Tese da Independência do Banco Central. Sicsú
Carta Capital
Valor Econômico
Ministério do Trabalho e Previdência Social
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Micro e macroeconomia- Uma abordagem conceitual e pratica. Montella Maura
Ministério da Fazenda. Nota técnica 07/2015
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE


Equipe de Pesquisa do Observatório Econômico:
Marcos Miranda
Rodrigo da Rocha.

Clauber Aguiar - Diretor